Polícia conclui inquérito, revela motivação e responsabiliza adolescente por 1 homicídio e 39 tentativas em Estação
- Andrei Nardi

- 18 de jul.
- 4 min de leitura
Em coletiva, delegados afirmam que jovem se inspirou em outros criminosos e agiu sozinho; investigação descarta rumores sobre omissão de socorro no dia do ataque
A Polícia Civil concluiu a investigação sobre o ataque à Escola Municipal Maria Nascimento Giacomazzi, em Estação, e remeteu o inquérito ao Ministério Público nesta quinta-feira (17). Em uma coletiva de imprensa, os delegados Jorge Pierezan e Gustavo Ceccon, detalharam o resultado do inquérito, que responsabilizou o adolescente de 16 anos pela prática de um ato infracional análogo a homicídio qualificado consumado pela morte do aluno Vitor André Kungel Gambirazi, de nove anos, e por outras 39 tentativas de homicídio, todas qualificadas.
A investigação confirmou que o jovem agiu sozinho, em um ato premeditado, e revelou pela primeira vez a motivação por trás do crime. Durante a coletiva, os delegados também esclareceram boatos que circularam na comunidade, principalmente sobre uma suposta omissão de socorro ocorrida em meio ao caos que se seguiu ao ataque, hipótese que foi completamente descartada pela apuração.
Motivação e perfil: admiração por outros criminosos
Um dos pontos mais aguardados pela comunidade era a motivação do ataque. O delegado Jorge Pierezan explicou que a investigação desvendou a origem da ação, que não possui ligação com grupos externos. “É um rapaz que nutriu admiração por criminosos que cometeram um crime da mesma natureza. Se estimulou através de pesquisas, de busca de conhecimento e chegou a um dia que foi até a escola e cometeu esse crime bárbaro”.
A polícia reforçou que o ato foi uma iniciativa exclusiva do adolescente. “A investigação buscou desde o primeiro minuto descobrir se existia um coautor, um instigador, alguma coisa nesse sentido que nos trouxesse algum risco. E nesse caso, não. Nesse caso, ele agiu sozinho. Foi premeditado, absolutamente premeditado. Mas ele estava sozinho”.
O perfil do adolescente chamou a atenção dos investigadores, pois ele não possuía qualquer histórico de violência. “Ele não tem antecedentes policiais. Ele não tinha problemas de relacionamento na escola, não tinha envolvimento com brigas, com questões de violência no geral”. Segundo a polícia, o jovem nunca havia externalizado suas intenções para ninguém, nem mesmo para a família. “Os pais dele não tinham ideia de que ele tinha essa intenção, que são as pessoas mais próximas que vivem com ele, que moram na mesma residência. Não tinham ideia de que ele pudesse fazer uma crueldade dessas”. Embora não tenha um diagnóstico formal de transtornos, o jovem já fazia acompanhamento médico psiquiátrico.
A dimensão do ato: o cálculo das 39 tentativas
Os delegados explicaram o critério técnico para o indiciamento por 39 tentativas de homicídio, número que vai além das vítimas que sofreram ferimentos físicos. No total, foram cinco pessoas feridas além da vítima fatal: quatro crianças e uma professora.
A responsabilização pelas outras tentativas foi justificada pela intenção do agressor. “Quando ele deliberadamente entra com a intenção de matar, o dolo era de cometer homicídio. Então ele responde pela tentativa de homicídio”. A polícia considerou que cada pessoa que estava no caminho do agressor, em duas salas de aula e nos corredores, foi uma vítima em potencial e esteve sob risco iminente, justificando a acusação.
Investigação descarta omissão de socorro
Um ponto extensamente abordado na coletiva foi a elucidação do episódio envolvendo uma ambulância, que gerou rumores de omissão de socorro a vítimas em favor do agressor. O delegado Jorge Pierezan foi enfático ao negar essa hipótese. “No momento que ele saiu da escola, aconteceu uma grande confusão na frente. De fato, tentaram linchar o rapaz e ele foi socorrido por quem estava ali”.
Segundo a apuração, a situação era caótica e muitas pessoas não sabiam quem era o agressor ou a dimensão do que havia acontecido. O socorro inicial ao adolescente, inclusive por um tio que estava no local, foi uma tentativa de cessar a violência do linchamento. A polícia concluiu que não houve qualquer intenção deliberada de priorizar o agressor. “Primeiro que eles nem sabiam que ele era o agressor. Não se sabia ainda com certeza, com exatidão. Então faz parte do tumulto ali que aconteceu”. Também foi descartado que este episódio tenha tido implicação no socorro à vítima fatal, pois o atraso foi de apenas alguns segundos.
O apelo da polícia: exaltar os heróis e a responsabilidade dos pais
Ao final da coletiva, os delegados fizeram um apelo para que o foco da comunidade e da imprensa mude. “A ação do criminoso, tecnicamente, não se deve mais falar sobre ela. A polícia não vai mais falar sobre o que ele fez”, afirmou o delegado Jorge Pierezan.
Ele pediu que a atenção se volte para a "valentia daquelas pessoas que estavam lá e que salvaram muitas crianças". “Se não fosse o comportamento da professora, não fosse o comportamento do zelador, não fossem as crianças terem sido treinadas para evacuar aquela escola antes, como foram em caso de incêndio, [...] tudo isso contribuiu para que ainda não tivéssemos algo mais grave lá dentro”.
O delegado Gustavo Ceccon reforçou a necessidade de atenção dos pais com a atividade dos filhos na internet. “A internet é uma porta aberta dentro da tua casa. Então os pais têm que ter esse cuidado de ver o que que o filho está acessando, o que o filho tá fazendo, se preocupar com esse tipo de coisa, até para eventualmente evitar algo mais sério”.
NOTA À IMPRENSA
Estação, 17 de julho de 2025
A Polícia Civil informa que foi concluída, na presente data, a investigação sobre o ato infracional ocorrido nas dependências da Escola Maria Nascimento Giacomazzi, no município de Estação.
O adolescente infrator foi responsabilizado pela prática de homicídio qualificado consumado (1x) e por todas as tentativas de homicídio ocorridas no local (39x).
As apurações demonstraram que o ato foi praticado de forma isolada, sem a participação de terceiros, sendo uma iniciativa exclusiva do próprio autor.
No curso da investigação, foram adotadas todas as diligências cabíveis, com a análise detalhada da dinâmica dos fatos, comportamento do criminoso, de seus deslocamentos, contatos, motivações e demais aspectos relevantes à completa elucidação do crime.
Em razão do sigilo que recai sobre o procedimento de apuração de ato infracional e sobre o processo judicial, não é possível divulgar informações adicionais neste momento.
A Polícia Civil reitera seu compromisso com a verdade e com a responsabilização de condutas graves, colocando-se à disposição e manifestando solidariedade às vítimas, seus familiares e à comunidade escolar.

Ouça a entrevista coletiva na íntegra:









