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Bancário que trabalhava em Getúlio Vargas morre em tragédia com balão em SC; acidente expõe debate sobre segurança

  • Foto do escritor: Andrei Nardi
    Andrei Nardi
  • 22 de jun.
  • 4 min de leitura

Fabio Luiz Izycki e a namorada, Juliane Jacinta Sawicki, estão entre os oito mortos. Falha em regras para o balonismo turístico é apontada por especialistas após o segundo acidente fatal com balões no país em menos de uma semana

A morte do bancário Fabio Luiz Izycki, de 42 anos, que trabalhava no Banco do Brasil em Getúlio Vargas, e de sua namorada, a engenheira agrônoma Juliane Jacinta Sawicki, de 36, em uma tragédia com um balão de ar quente em Praia Grande (SC), na manhã de sábado, 21 de junho, chocou as comunidades do norte gaúcho. O casal está entre as oito vítimas fatais de um acidente que deixou ainda 13 feridos e expôs uma grave lacuna na regulamentação de uma atividade turística em plena expansão no Brasil. Este foi o segundo acidente fatal do tipo no país em menos de uma semana.

As vítimas da região

Conhecido pela dedicação profissional e pelas boas relações com colegas e amigos, Fabio Luiz Izycki era natural de Barão de Cotegipe, mas residia em Erechim e mantinha seu vínculo diário com Getúlio Vargas através de seu trabalho. Ele viajava com a namorada, Juliane, para aproveitar o feriado e conhecer as paisagens dos cânions da região, famosa pelos voos de balão.

Juliane era natural de Carlos Gomes e moradora de Áurea, onde atuava como sócia de uma empresa de assessoria agrícola. A prefeitura de Áurea divulgou uma nota de pesar em solidariedade à família da engenheira agrônoma.

A dinâmica da tragédia

O voo panorâmico, que custava R$ 550 por pessoa e durava cerca de 45 minutos, transformou-se em um cenário de horror. Segundo as primeiras informações da Polícia Civil, o fogo começou no piso do cesto do balão, em um maçarico que servia como reforço de segurança. O extintor de incêndio a bordo não teria funcionado.

Com a aeronave em chamas, o piloto tentou uma descida de emergência. Próximo ao solo, orientou os 21 ocupantes a pularem. Treze pessoas, incluindo o piloto, conseguiram escapar. Com o peso reduzido e as chamas se alastrando, o balão voltou a subir desgovernado, levando as oito vítimas que não conseguiram sair. Quatro delas foram encontradas carbonizadas. "Nós vamos precisar fazer exames de DNA com relação às últimas pessoas que acabaram ficando no cesto e acabaram sendo queimadas ali, abraçadas. Inclusive uma cena muito triste", disse o delegado-chefe da Polícia Civil de Santa Catarina, Ulisses Gabriel.

Moradores da área rural próxima à Rodovia SC-108 relataram momentos de pânico. "Eu vi, ela caiu uns 15 metros na minha frente", disse o morador Deuclides, que ouviu gritos de "me ajuda e socorro" e viu o balão em chamas. Outro morador, Bernardino, acolheu um dos sobreviventes que conseguiu pular. "Ele chegou aqui, veio correndo, se ajoelhou na frente da igreja e rezava. A gente ajudou ele, deu uma água com açúcar", relatou.

Histórias interrompidas

A tragédia devastou outras famílias. De Blumenau, Leane Elizabeth Herrmann e sua filha, Leise Herrmann Parizotto, que era médica da rede pública, morreram no acidente. Uma terceira integrante da família, Leciane Parisotto, sobreviveu. O casal Everaldo e Janaína da Rocha, de Joinville, também faleceu; a filha deles, de 22 anos, conseguiu pular e se salvou.

As outras vítimas foram identificadas como Andrei Gabriel de Melo, médico oftalmologista de Fraiburgo, e Leandro Luzi, morador de Brusque e diretor técnico da Federação Catarinense de Patinação Artística. A federação lamentou a perda de um "profissional exemplar e apaixonado". As prefeituras de Blumenau, Joinville e Fraiburgo emitiram notas de pesar.

O atendimento aos sobreviventes

Dos 13 sobreviventes, cinco foram encaminhados ao Hospital Nossa Senhora de Fátima, em Praia Grande. Três sofreram ferimentos leves e dois tiveram queimaduras de segundo grau nas mãos e no rosto. Todos receberam atendimento clínico e psicológico e foram liberados ao longo da tarde de sábado. "Trouxeram todo o conteúdo angustiante, trágico do fato, mas sobre detalhes do ocorrido, aí a gente vai passar para as autoridades policiais", informou um representante do hospital. O piloto e outras cinco vítimas já foram ouvidos pela polícia, que aguarda laudos periciais para avançar no inquérito.

Um setor em expansão sem regras claras

O acidente em Santa Catarina acontece apenas seis dias após outra queda de balão no interior de São Paulo, que resultou na morte de Juliana Alves Prado Pereira, de 27 anos, e deixou 11 feridos. O piloto foi preso por homicídio culposo.

Os dois acidentes em uma semana lançam luz sobre um setor que cresce cerca de 20% ao ano desde 2023, segundo a Associação Brasileira das Empresas de Ecoturismo e Turismo de Aventura, mas que opera em uma zona cinzenta de regulamentação.

Em nota, a Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) lamentou o ocorrido e confirmou que o balonismo é uma atividade aerodesportiva. Por isso, "não existe uma habilitação técnica emitida pela ANAC para a prática", sendo considerada de alto risco.

O diretor executivo da Associação Brasileira de Empresas de Turismo de Aventura afirma que, por não ser reconhecida pela ANAC como transporte, a atividade não possui regras específicas da agência. No entanto, ele ressalta que, como turismo de aventura, as empresas "precisam implementar um sistema de gestão de segurança baseado nas normas técnicas brasileiras", conforme o Código de Defesa do Consumidor e a Lei Geral do Turismo.

Para o especialista em gestão de riscos aeronáuticos, Gerardo Portela, os protocolos de emergência são extremamente limitados. "Em uma situação de emergência no ar, os recursos são muito poucos. O protocolo é mínimo para tentar evitar uma perda maior de vidas. A princípio seria reduzir a altitude o mais rápido possível e ao chegar próximo ao solo tentar abandonar o balão", explicou.

Repercussão e luto oficial

O governador de Santa Catarina, Jorginho Mello, que está em viagem ao Japão, decretou luto oficial de três dias e determinou a criação de uma força-tarefa para apurar o caso. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o Ministério do Turismo também lamentaram as mortes. O ministério declarou que, desde o início do ano, trabalha com o Sebrae e a ANAC para a regulamentação do balonismo turístico.

A empresa Sobrevoar, responsável pelo passeio, afirmou em nota que cumpre "todas as normas estabelecidas pela ANAC", que o piloto possui ampla experiência e que nunca houve registro de acidente antes em suas operações.

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