top of page

Taxa de mortalidade por suicídio no RS cresceu 47,7% em oito anos, aponta boletim da Saúde

  • Foto do escritor: Andrei Nardi
    Andrei Nardi
  • 25 de set.
  • 4 min de leitura

Estado apresenta um dos maiores índices do país; dados de 2024 mostram homens e idosos como os grupos de maior risco, e documento detalha estratégias de prevenção e desafios regionais

O Rio Grande do Sul registrou um alarmante aumento de 47,7% nas taxas de mortalidade por suicídio entre 2015 e 2023, passando de 10,88 para 16,07 óbitos por 100 mil habitantes, o maior valor da série histórica. Os dados, que consolidam o estado como um dos territórios com os maiores índices do país, foram divulgados no novo Boletim Epidemiológico da Secretaria da Saúde (SES), que aprofunda a análise sobre o fenômeno, o perfil das vítimas, as desigualdades regionais e as estratégias de prevenção.

Embora os dados de 2024 ainda sejam parciais e sujeitos a revisão, eles apontam para a manutenção de um cenário preocupante, com 1.528 óbitos registrados até o momento. A publicação do boletim, em alusão ao Setembro Amarelo, visa subsidiar gestores, profissionais de saúde e a sociedade civil na formulação de políticas públicas mais eficazes para a promoção da vida.

O perfil da mortalidade: homens e idosos são os mais vulneráveis

A análise dos dados de 2024 revela um perfil claro e preocupante. Cerca de 80% das vítimas de suicídio no estado foram homens, um padrão que se repete ao longo dos anos. A vulnerabilidade se acentua com a idade, especialmente na população masculina. A taxa de mortalidade entre homens com mais de 80 anos atingiu 49,69 óbitos por 100 mil habitantes, a mais elevada entre todas as faixas etárias.

O padrão entre as mulheres é diferente. Embora o risco seja maior na faixa etária de 60 a 69 anos, com uma taxa de 8,35, os índices apresentam queda nas idades mais avançadas, contrastando com o aumento progressivo observado entre os homens. O boletim aponta que, na velhice masculina, fatores de risco como a perda de autonomia, a interrupção da vida laboral, o surgimento de doenças incapacitantes e a sensação de inutilidade podem agravar o sofrimento psíquico.

A geografia do suicídio no RS

A distribuição dos óbitos no território gaúcho é marcada por uma profunda desigualdade. As maiores taxas de mortalidade estão concentradas no interior do estado, especialmente nas áreas de abrangência das Coordenadorias Regionais de Saúde (CRS) de Cruz Alta (26,40 por 100 mil habitantes), Santa Cruz do Sul (23,88), Ijuí (23,69) e Frederico Westphalen (23,57). Em contrapartida, a 11ª CRS, com sede em Erechim, apresentou uma taxa de 13,15, abaixo da média estadual parcial de 14,87.

Entre os municípios com mais de 50 mil habitantes, Venâncio Aires lidera o ranking com uma taxa alarmante de 33,81 óbitos por 100 mil habitantes. A lista de cidades com índices elevados inclui ainda São Borja (23,16), Sapiranga (22,56) e Ijuí (22,56).

O impacto das enchentes e a saúde mental a longo prazo

Contrariando a preocupação inicial de especialistas, os dados preliminares do boletim não confirmaram um aumento imediato nas taxas de suicídio após as enchentes de setembro de 2023 e de abril e maio de 2024. No entanto, o documento faz um alerta importante: os efeitos emocionais de desastres ambientais nem sempre são imediatos e exigem atenção contínua.

Sintomas como ansiedade, insônia e memórias intrusivas são comuns após eventos traumáticos, mas muitas vezes não chegam a ser registrados pelos serviços de saúde. Impactos mais graves, como o desenvolvimento de transtornos mentais e comportamentos autolesivos, podem surgir com o tempo, reforçando a necessidade de estratégias de prevenção e cuidado a longo prazo nas comunidades atingidas.

Um fenômeno complexo que exige ações articuladas

O boletim contextualiza o suicídio como um problema de saúde pública global, citando dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) que mostram que, em 2021, mais pessoas morreram por suicídio no mundo do que por HIV/AIDS ou conflitos armados. O comportamento suicida é um espectro que inclui ideação, planejamento, tentativas e autolesões — estas últimas, como cortes e queimaduras, são mais comuns na adolescência e podem funcionar como um pedido de ajuda ou uma forma de aliviar uma dor emocional intensa.

A prevenção, portanto, exige uma abordagem complexa e intersetorial. A SES defende o fortalecimento da rede de atenção psicossocial e o papel estratégico da atenção primária na identificação precoce de pessoas em sofrimento. Além do cuidado individual, o boletim ressalta a importância de estratégias coletivas que garantam direitos sociais básicos e o enfrentamento a diversas formas de violência que elevam o risco, como a discriminação contra a comunidade LGBTQIA+, o abuso sexual, o bullying, o racismo e a violência contra mulheres e idosos.

Eventos e capacitação no Setembro Amarelo

Para aprofundar o debate e capacitar profissionais, a Secretaria da Saúde promoverá dois seminários macrorregionais sobre a promoção da vida e a prevenção ao suicídio. Os eventos são abertos ao público e as inscrições são gratuitas.

VEJA TAMBÉM

OUÇA AO VIVO

Sideral FM

98 FM

Estação FM

bottom of page