Produtores de leite solicitam ação imediata para taxar produtos lácteos importados
- Andrei Nardi
- 9 de jun. de 2023
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Fetag-RS pede medidas urgentes ao ministro do Desenvolvimento Agrário para conter importação de lácteos
Durante a abertura da 23ª Fenarroz, o presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do RS (Fetag-RS), Carlos Joel da Silva, fez um apelo ao ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, para que sejam tomadas providências imediatas para impedir a importação de produtos lácteos no Brasil. A proposta é sobretaxar temporariamente a importação desses produtos até que o mercado nacional se equilibre. Essa medida já foi adotada anteriormente, em 2011 ou 2012, quando houve um acréscimo de 17% nas tarifas durante cinco ou seis meses, resultando em uma reação dos preços no mercado interno.
O pedido, originado na Comissão Estadual do Leite da Fetag-RS, baseia-se em dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC). Segundo informações do Comex Stat, nos primeiros cinco meses deste ano, as importações de leite em pó, creme de leite e laticínios (exceto manteiga e queijo) aumentaram 247,9% em comparação com o mesmo período do ano anterior. Foram adquiridas 92,2 mil toneladas desses produtos, totalizando 350,5 milhões de dólares, um valor 292,8% maior do que o registrado nos primeiros cinco meses de 2022.
Preocupação com a indústria de chocolates
O Sindicato da Indústria de Laticínios e Produtos Derivados (Sindilat-RS) destaca que as indústrias de chocolates brasileiras estão optando pelo leite em pó importado. Durante a Páscoa, por exemplo, esse leite importado veio da Argentina e do Uruguai. O secretário-executivo do Sindilat-RS, Darlan Palharini, ressalta que essa situação afeta diretamente os preços pagos aos produtores, já que não há outras alternativas para reduzir o custo. Ele aguarda agora os movimentos do mercado para avaliar a remuneração do leite em julho e ressalta a necessidade de igualdade de benefícios e incentivos entre os produtores nacionais e estrangeiros.
Importações crescentes e impacto no setor
A crescente importação de lácteos tem gerado grande preocupação entre os produtores, como é o caso dos criadores da raça Holandesa. Marcos Tang, presidente da Associação dos Criadores de Gado Holandês no RS (Gadolando), enfatiza a importância de uma regulação do mercado para evitar a queda nos preços e proteger a soberania do setor. Ele destaca que, atualmente, estão sendo comprados leites estrangeiros para fornecer produtos mais baratos aos consumidores, mas isso não pode ser feito em detrimento dos produtores locais. Tang relata que tem sido procurado por produtores desesperados que não sabem mais o que fazer diante da crise.
A busca por soluções
A preocupação com o setor lácteo também foi discutida na Assembleia Legislativa do Estado. A Comissão de Agricultura, Pecuária, Pesca e Cooperativismo convocou representantes do Estado, incluindo a Secretaria da Agricultura, a Casa Civil e a Procuradoria Geral do Estado, para esclarecer a situação e os recursos do Fundo de Desenvolvimento da Cadeia Produtiva do Leite (Fundoleite). Desde 2020, esses recursos, estimados em R$ 30 milhões, não são liberados, afetando projetos e até mesmo a realização da pesquisa mensal do Preço de Referência do Leite.
O deputado Elton Weber (PSB) destaca que mais de 50 mil produtores abandonaram a cadeia leiteira gaúcha entre 2015 e 2023, de acordo com dados da Emater e do Sindilat. Atualmente, restam cerca de 35 mil agricultores ativos no Estado. A discussão sobre o Fundoleite busca encontrar soluções para impulsionar o desenvolvimento da cadeia produtiva do leite e reverter o cenário de desistências e dificuldades enfrentadas pelos produtores.
Em resumo, produtores de leite do Rio Grande do Sul solicitaram ação imediata para taxar produtos lácteos importados, visando equilibrar o mercado interno. A importação de lácteos aumentou significativamente nos últimos meses, afetando os preços pagos aos produtores. A indústria de chocolates brasileira tem optado pelo leite em pó importado, o que também contribui para a crise no setor. A discussão sobre a taxação desses produtos ocorreu durante a abertura da 23ª Fenarroz e será formalizada em um documento para o ministro do Desenvolvimento Agrário. Além disso, a Assembleia Legislativa realizará uma reunião para tratar dos recursos do Fundoleite, que não são liberados desde 2020, prejudicando o desenvolvimento da cadeia produtiva do leite. A situação preocupa os produtores e busca-se encontrar soluções para reverter o cenário de desistências na atividade leiteira.
