Iniciativa busca criar um mercado alternativo e manter a circulação de recursos dentro do município
Palmeira das Missões, cidade de 33,2 mil habitantes no noroeste do Rio Grande do Sul, deu um passo inovador para estimular sua economia local: criou o Tacuapi, uma moeda digital exclusiva para transações dentro dos limites do município. O nome, originado do tupi-guarani, faz referência à primeira bomba de chimarrão utilizada pelos indígenas, homenageando a história da cidade, que tem raízes no comércio de erva-mate.
O Tacuapi foi implementado através da lei nº 6.214/2024, que também criou o Banco Municipal Popular de Palmeira das Missões, onde os usuários poderão abrir contas digitais pré-pagas para utilizar a nova moeda. Cada Tacuapi equivale a R$ 1 e pode ser convertido para o real, diferenciando-se de criptomoedas tradicionais cuja cotação varia conforme a demanda e oferta. "Essa moeda complementa o Real e cria um mercado solidário e alternativo entre prestadores de serviços e consumidores locais", destaca o texto da lei.
Objetivos e expectativas
A proposta de criar uma moeda digital própria partiu da prefeitura, foi aprovada pela Câmara de Vereadores e sancionada em 31 de julho. A iniciativa tem como objetivo principal incentivar a circulação de dinheiro dentro do município, potencialmente sendo utilizada para pagamentos de auxílios governamentais e salários de servidores municipais. "Para o uso dentro na cidade, podemos, por exemplo, pagar os funcionários municipais em moeda social, assim como receber os benefícios dessa forma. Tudo, claro, ainda será estudado e decidido", explicou o prefeito Evandro Massing.
A prefeitura está atualmente elaborando um cronograma para operacionalizar o banco e a moeda digital, com a previsão de que o Tacuapi esteja em circulação entre o final de 2024 e o início de 2025. "Queremos, dentro desse prazo, já usar a moeda em algumas políticas públicas da cidade. Entendemos que será um projeto de médio e longo prazo até as pessoas entenderem a credibilidade do Tacuapi", acrescentou Massing.
Desafios e perspectivas comerciais
A economia de Palmeira das Missões, predominantemente agrícola, pode apresentar um desafio para a aceitação imediata do Tacuapi. Renato Dalberto, presidente da Associação Comercial Agro-Industrial e Serviços (Acaip), acredita que a adaptação ao uso da moeda digital pode levar tempo, mas destaca que a experiência de outras cidades brasileiras com moedas locais tem sido positiva. "É algo inovador e talvez enfrente alguma dificuldade para a comunidade 'abraçar'. Talvez leve algum tempo, mas temos exemplos de cidades pelo Brasil que já instituíram a moeda e têm faturamentos valiosos para os municípios, então aqui não será diferente", disse Dalberto.
Um exemplo mencionado por Dalberto é a cidade de Santiago, na Região Central, que adotou duas moedas digitais: o Pila Azul e o Pila Verde, geradas a partir de ações de preservação ambiental. Ele vê no Tacuapi uma oportunidade para manter os recursos financeiros dentro de Palmeira das Missões. "Nós do comércio sempre falamos que o recurso gerado aqui é gasto fora, e essa seria uma forma de ficar. Se todos os comerciantes aderirem, pode ser uma virada de chave na cidade, mas vai depender desse convencimento", afirmou.
Análise econômica
A viabilidade do Tacuapi dependerá de uma série de fatores, como aponta Julcemar Zilli, doutor em Economia e professor da Universidade de Passo Fundo (UPF). Ele alerta para possíveis desafios, como o acesso à tecnologia por parte da população e a necessidade de garantir a segurança contra fraudes. "Pode ser que haja dificuldade pra grupos com menos acesso à tecnologia, por exemplo. Também é preciso ver como será a segurança para evitar fraudes. Portanto, a eficácia vai depender da implementação, da implementação correta e do gerenciamento", analisou Zilli.
A moeda digital Tacuapi representa um movimento ousado para fortalecer a economia local e criar um mercado solidário em Palmeira das Missões. Contudo, seu sucesso dependerá da aceitação da comunidade, da adesão dos comerciantes e da efetividade das políticas de implementação e segurança.
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