Olho Vivo | 04/07/2025 - Deputado Paparico Bacchi aponta falhas no projeto de pedágios e cobra transparência sobre repasse bilionário
- Andrei Nardi
- 4 de jul.
- 3 min de leitura
Em entrevista, presidente da Frente Parlamentar contra os Pedágios detalha o que considera prejuízos do Bloco 2, defende o uso direto do recurso em obras e propõe mobilização para barrar o projeto
Durante entrevista ao programa Olho Vivo, da Rádio Sideral, nesta sexta-feira, dia 04 de julho, o deputado estadual Paparico Bacchi (PL), presidente da Frente Parlamentar contra os Pedágios, detalhou suas críticas ao projeto de concessão de rodovias do Bloco 2, proposto pelo governo de Eduardo Leite. O deputado acusou o governo de planejar o repasse de R$ 1,5 bilhão do Fundo de Reconstrução do Rio Grande do Sul para a futura concessionária, que, segundo ele, só iniciaria as obras três anos após a assinatura do contrato, mas começaria a cobrar pedágio já no primeiro ano.
Bacchi, que participava do programa diretamente de São Pedro do Sul em apoio a um movimento de agricultores pela securitização de dívidas, afirmou que o projeto é uma “barbaridade” e que a Frente Parlamentar solicitou formalmente ao Tribunal de Contas do Estado (TCE) a íntegra da proposta para análise, comparando-a a uma “fórmula da Coca-Cola” por sua falta de transparência.
Detalhes do projeto e o repasse de R$ 1,5 bilhão
Segundo o deputado, o plano do governo estadual prevê a entrega de R$ 1,5 bilhão à concessionária vencedora logo após a assinatura do contrato. “Ela vai receber na conta R$ 1,5 bilhão, vai deixar esse dinheiro aplicado por 3, 4, 5, 10 anos e vai começar a cobrar o pedágio um ano depois do contrato e só vai começar a executar a primeira obra três anos depois”, afirmou Bacchi.
O projeto prevê praças de pedágio a cada 17 quilômetros. A tarifa inicial seria de R$ 0,19 por quilômetro, mas o deputado alerta para um aumento previsto. “Quando a obra ficar pronta, vai ter um acréscimo de 30% sobre os 19 [centavos]”, explicou, acrescentando que haverá reajustes anuais sobre os valores.
Como alternativa, Paparico Bacchi defende que o próprio governo utilize o R$ 1,5 bilhão para realizar as obras, como duplicações e terceiras faixas, mantendo as rodovias livres de pedágio. Ele também citou uma sugestão do prefeito de Getúlio Vargas, Pedro Paulo Prezzotto, para que o valor seja repassado a um consórcio de municípios para a execução dos serviços.
Impacto econômico e o maior custo logístico do mundo
O deputado alertou que a implementação dos pedágios tornará o custo logístico da região o maior do mundo. Ele apresentou dados comparativos, afirmando que o custo logístico no Rio Grande do Sul já é de 21% do PIB, superior à média nacional de 19%. Na região da Serra, após a implantação de pedágios, o custo atingiu 22,86%. Os valores contrastam com os da Europa (6%) e dos Estados Unidos (8%).
Bacchi teme que o aumento dos custos leve a uma evasão de empresas para Santa Catarina e a um êxodo populacional, agravando a crise econômica do estado. “Como é que vai fazer para a indústria que está instalada na nossa região competir?”, questionou, afirmando que o aumento será repassado ao consumidor final no preço dos produtos.
Renúncia de ISS e estratégia de mobilização
Paparico Bacchi classificou como “inconstitucional” a proposta do governo para que os municípios afetados abram mão da arrecadação do Imposto Sobre Serviços (ISS) em troca de uma redução na tarifa de pedágio. Segundo ele, a medida exigiria aprovação das Câmaras de Vereadores e resultaria em uma redução ínfima, de R$ 0,19 para R$ 0,18 por quilômetro.
Para barrar o projeto, o deputado disse que a Frente Parlamentar atuará em várias frentes. Ele confirmou uma agenda no Tribunal de Contas na próxima terça-feira, 08 de julho, com o conselheiro Iradir Pietroski. Caso a proposta avance, o grupo pretende acionar o Ministério Público e judicializar a questão. Bacchi também convocou a população a pressionar os deputados de suas regiões e a usar adesivos contra o pedágio nos carros, aproveitando o fato de que o próximo ano é eleitoral.
Críticas à gestão estadual
O deputado direcionou fortes críticas ao governador Eduardo Leite, afirmando que ele “vai entrar para a história como o pior governador da história do nosso estado”. Bacchi declarou que o governador assumiu o estado com uma dívida de R$ 78 bilhões, que já ultrapassa os R$ 104 bilhões e pode chegar a R$ 110 bilhões até o fim do mandato, mesmo após arrecadar quase R$ 34 bilhões com privatizações e reformas apoiadas pelo próprio deputado.
Ele mencionou ainda que o movimento contra os pedágios ganhou o apoio da Federação de Entidades Empresariais do Rio Grande do Sul (FederaSul) e de 32 dos 34 prefeitos dos municípios atingidos, incluindo representantes do Vale do Taquari que antes eram favoráveis à proposta.
