Metanol em bebidas: entenda a crise que causa mortes e intoxicações no Brasil
- Andrei Nardi

- 2 de out.
- 3 min de leitura
Surto de intoxicação, o maior desde 1999, tem 43 casos confirmados e 8 mortes em investigação; apurações apontam para o uso de insumo importado ilegalmente pelo crime organizado
O Brasil enfrenta sua maior emergência toxicológica relacionada a bebidas desde 1999, com 43 casos confirmados de intoxicação por metanol e oito mortes em investigação. A crise, concentrada principalmente em São Paulo, acendeu um alerta nacional sobre a circulação de bebidas alcoólicas adulteradas, levando o Ministério da Saúde a criar uma sala de monitoramento e a determinar a notificação imediata de casos suspeitos em todo o país. Investigações policiais apontam para uma rede de produção clandestina que utiliza metanol importado ilegalmente pelo crime organizado.
A resposta governamental envolve ações coordenadas entre saúde, justiça e segurança pública para conter o surto, tratar as vítimas e desarticular a produção e distribuição dos produtos contaminados. A prevenção, baseada na educação do consumidor e no fortalecimento da fiscalização, é apontada como a principal estratégia para evitar novas tragédias.
A Conexão com o Crime Organizado
Investigações e uma associação do setor levantaram a suspeita de que o metanol usado na adulteração de bebidas como gin, uísque e vodca foi importado ilegalmente pela facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) e repassado para fábricas clandestinas. Operações policiais resultaram na interdição de bares e distribuidoras e na apreensão de milhares de garrafas. Em uma das ações, 128 mil garrafas de vodca foram lacradas. O dono de um bar interditado admitiu ter comprado vodca de um vendedor informal.
O que é o Metanol e seus Riscos
O metanol, ou álcool metílico, é um tipo de álcool industrial altamente tóxico, usado como solvente e em combustíveis, mas impróprio para o consumo humano. Sua estrutura química é semelhante à do etanol (o álcool de bebidas), mas seu metabolismo no corpo humano gera substâncias como o formaldeído e o ácido fórmico, que são extremamente nocivas.
A ingestão de metanol pode causar falência múltipla de órgãos, atacando fígado, cérebro, medula e, de forma particularmente severa, o nervo óptico, podendo levar à cegueira permanente.
Sinais de Intoxicação e Tratamento
Os sintomas de intoxicação por metanol podem levar de algumas horas a mais de um dia para aparecer e incluem dor de cabeça, tontura, náuseas, vômitos, dor abdominal e, em casos mais graves, alterações visuais como visão turva, dupla ou flashes de luz, podendo evoluir para convulsões, coma e morte.
O tratamento exige socorro médico urgente e pode envolver o uso de antídotos como o fomepizol ou até mesmo o etanol, que compete com o metanol no organismo, impedindo a formação das substâncias tóxicas. O Ministério da Saúde está em negociação com a Organização Mundial da Saúde (OMS) para criar uma reserva estratégica do antídoto, que está em falta no país segundo centros de toxicologia.
Como se Proteger
Autoridades de saúde e especialistas recomendam que os consumidores evitem bebidas de procedência duvidosa, com preços muito abaixo do mercado, rótulos danificados, mal impressos ou sem lacre. A orientação é sempre comprar produtos em estabelecimentos comerciais confiáveis e, ao consumir em bares, verificar a origem da bebida que está sendo servida.
Histórico e Contexto Global
O Brasil já registrou outros episódios de intoxicação em massa por metanol. O mais grave ocorreu em 1999, na Bahia, quando 35 pessoas morreram após consumir uma aguardente conhecida como "Rabo de Foguete". Casos semelhantes de mortes de turistas por bebidas adulteradas também foram registrados recentemente em países asiáticos, como no Laos, evidenciando que a prática é um risco global à saúde pública.










