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Golpes na venda de gado deixam produtores em alerta no RS; polícia investiga fraudes em leilões e anúncios clonados

  • Foto do escritor: Andrei Nardi
    Andrei Nardi
  • 26 de set.
  • 4 min de leitura

Novas modalidades de estelionato, que incluem lances falsos em remates virtuais e clonagem de ofertas na internet, causam prejuízos milionários no campo; autoridades recomendam cuidados redobrados nas negociações

Produtores rurais do Rio Grande do Sul estão em alerta devido a uma onda de golpes aplicados na comercialização de gado, que têm gerado prejuízos significativos e mobilizado investigações policiais. As fraudes, que se modernizaram com o uso da internet, envolvem desde a participação de estelionatários em leilões virtuais até a clonagem de anúncios de venda, induzindo as vítimas ao erro. Um caso recente em Pinheiro Machado resultou em uma perda de R$ 100 mil, e a polícia adverte que a criatividade dos criminosos exige atenção redobrada dos pecuaristas.

As investigações estão a cargo da Divisão de Repressão aos Crimes Rurais e de Abigeato (Dicrab) da Polícia Civil, que já cumpriu mandados em Ibirapuitã, Nicolau Vergueiro e Passo Fundo para apurar os crimes.

As modalidades dos golpes

Duas táticas principais têm sido utilizadas pelos criminosos para enganar os produtores. A primeira ocorre em leilões virtuais, onde os golpistas se cadastram com dados de produtores rurais idôneos para dar lances e arrematar lotes de animais. Em um caso emblemático em Pinheiro Machado, um estelionatário usou o cadastro de um produtor de Alecrim, arrematou um lote de 20 cabeças de gado por R$ 100 mil e os animais foram entregues em Soledade, mas o pagamento nunca foi realizado.

A segunda modalidade é a clonagem de anúncios. Criminosos copiam ofertas reais de venda de gado publicadas na internet e as republicam como se fossem os verdadeiros proprietários do rebanho, atraindo compradores com preços abaixo do mercado. Um produtor de Montenegro quase caiu no golpe, mas desconfiou da inconsistência do suposto vendedor. “Ele não sabia certo o lugar. Eu fiquei pensando: ‘o gado é teu e tu não sabe o lugar?’”, relatou o produtor, que não quis ser identificado.

Em alguns casos, os golpistas levam as vítimas até propriedades rurais, mostrando rebanhos de terceiros como se fossem seus. Em conversa telefônica com a reportagem, um dos estelionatários, que se passava por um vendedor de Santa Maria mas estava em Cuiabá (MT), descreveu o procedimento: “O senhor vai vir, vai olhar, olhou o gado, o senhor observa o que o senhor vai querer. E vem na mangueira ali, já tem balança, vamos pesando e se tu quiser já vamos embarcando. Embarcando e tu vai me pagando daí”, disse, oferecendo o quilo do boi a R$ 9, valor abaixo da média.

Orientações da Polícia Civil

O delegado Heleno dos Santos, da Dicrab, alerta que cuidados básicos podem evitar grandes prejuízos. “Orientamos que o vendedor e o comprador sempre estejam juntos, ou, de preferência, em uma instituição bancária oficial, que o pagamento se dê lá. Ou, se não for assim, que o vendedor veja o comprador fazendo a transferência, a PIX e a transferência bancária na frente dele”, recomenda.

O delegado também cobra mais rigor nos sistemas de validação. “Alguma maneira há de ser adotada para que essas empresas [de leilões] consigam ter a certeza de que aquela pessoa que está dando o lance é efetivamente o produtor que está se apresentando”, afirmou, sugerindo ainda aperfeiçoamentos no sistema da Secretaria da Agricultura para confirmar a identidade dos produtores.

Memória de um golpe milionário

Os novos casos trazem à tona a lembrança de um golpe que, em 2021, causou um prejuízo de cerca de R$ 30 milhões a 70 vítimas na Região Central do estado. Pecuaristas perderam rebanhos inteiros e até hoje aguardam ressarcimento.

“Tomamos esse golpe gigantesco, foram levadas na nossa propriedade 542 novilhas; levei a minha vida inteira para poder chegar nesse gado, um gado excelente”, relatou Vagner Grigoletto, produtor de Restinga Seca, que calcula sua perda em R$ 4 milhões.

Na época, as investigações apontaram a suspeita de envolvimento de um servidor público, Guilherme Siega Figueiredo, da Inspetoria Veterinária de Formigueiro, que teria lançado registros fraudulentos no sistema. Documentos mostraram que o principal suspeito, Marco Gilberto Becker Filho, teve o número de animais em seu nome saltado de 434 para 1.790 em um único dia, sem qualquer transação real.

O que dizem os envolvidos e as autoridades

Tribunal de Justiça (TJ)

O TJ informou que o processo corre em segredo de justiça, o que impede a divulgação de detalhes, mas confirmou que audiências foram realizadas e outras estão previstas para ouvir testemunhas e vítimas. "Trata-se de um processo complexo, com milhares de páginas, que foi concluso em 03/09/2025 para análise dos pedidos apresentados e demais providências cabíveis."

Secretaria da Agricultura

A Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi) esclareceu que seu sistema (SDA) é de controle sanitário, e não uma plataforma de comercialização. A secretaria explicou que, no caso do leilão, o comprador usou dados de outro produtor e o sistema privado do remate não validou a identidade do emissor do lance. A Seapi também ratificou que a Guia de Trânsito Animal (GTA) é um documento sanitário, e não fiscal.

Defesa de Marco Becker

A defesa de Marco Gilberto Becker Filho informou que o acusado está à disposição da Justiça e cumprindo medidas cautelares. Afirmou ainda que ele sempre colaborou com as investigações e que, embora discorde das imputações criminais e dos valores, "serão tomadas todas as medidas possíveis para atender aos eventuais lesados".

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