Genética e manejo de cereais de inverno também foram abordados
Enquanto o Brasil se consolida como potência agropecuária global e pesquisa para produzir em três safras, o RS produz apenas 1,09 safra por ano, pois utiliza uma pequena parte da área de verão para cultivos de inverno. Ajudar no crescimento e desenvolvimento econômico do Rio Grande do Sul, a partir da produção agrícola em duas safras e a sincronização entre produção agrícola e pecuária, de modo que o RS volte a crescer, no mínimo, às taxas médias do país em produção de proteína animal, este foi o foco da Edição Especial do Fórum Norte Gaúcho do Trigo realizado na sexta-feira, 5 de agosto, no Auditório do Sindicato Rural de Getúlio Vargas.
O evento contou com a presença do prefeito de Getúlio Vargas, Mauricio Soligo; do Chefe Geral da Embrapa Trigo, Jorge Lemainski; do consultor da Casa Rural, Denir Frosi; do presidente do Sindicato Rural de Getúlio Vargas, Luiz Carlos Silva; e dos representantes das entidades promotoras do Fórum Norte Gaúcho: Associação Comercial, Cultural, Industrial, de Agropecuária e de Serviços de Getúlio Vargas, Alceu Enricone, Associação dos Engenheiros Agrônomos dos Municípios do Alto Uruguai, Ronaldo Meirelles, Emater Ascar/RS Getúlio Vargas, Gilberto Tonello, e Unideau, professor Maurício Albertoni Scariot.
A abertura do Fórum foi feita pelo gerente regional da Emater, Gilberto Tonello, que falou em nome das entidades organizadoras, e pelo prefeito Mauricio Soligo, que saudou a todos e falou da importância de levar conhecimento para os produtores rurais. Conforme afirmou, a cultura de inverno pode e leva renda às propriedades. “E nós acreditamos muito nisso e que é possível desenvolver com a cultura de inverno o etanol”, afirmou.
Soligo anunciou que o município adquiriu uma área de terra para ampliação do Distrito Industrial, mas que já tem um protocolo de intenções assinado com a BSBios para uma possível instalação de uma usina de etanol em Getúlio Vargas, especialmente por causa da sua localização, sua vocação à produção agrícola de cereal de inverno e por acreditar nas energias renováveis. “Nós queremos colocar o nosso município neste cenário”, afirmou Soligo.
RS em desvantagem
Em seguida, o consultor da Casa Rural, Deni Frosi, deu o seu recado, e o chefe geral da Embrapa Trigo, Jorge Lemainski, falou sobre a importância do Programa Duas Safras. Segundo ele, atualmente a produção da safra de inverno do estado representa apenas 9% do tamanho da safra de verão. Enquanto isso, a pecuária gaúcha vem apresentando desempenho inferior em relação à média brasileira. Entre 1990 e 2019, a população do rebanho bovino teve queda de 0,5% ao ano, enquanto o país cresceu 1,3% a.a. Os abates aumentaram 0,9% a.a. frente ao país que teve 3,1%a.a. Para se ter uma ideia, Rondônia teve aumento médio de 7,6%a.a. do rebanho e 14,1% nos abates no mesmo período.
No caso dos suínos, o Rio Grande do Sul viu seu rebanho crescer, em média, 1,4% a.a., enquanto o Paraná registra alta de 2,3% a.a. e Santa Catarina, 2,9% a.a. Já em relação aos abates, o aumento foi de 5,4% a.a. no território gaúcho, 3,7% a.a. em Santa Catarina e 6% a.a. no Paraná. Nas aves, o rebanho do Rio Grande do Sul aumentou 2,36% a.a., na região Centro Oeste, Goiás avança com 6,8% a.a e Mato Grosso, 7,5% a.a. A grande oferta de milho na região favoreceu o crescimento da produção. Isso também influenciou no abate. Enquanto o Rio Grande do Sul aumentou seus números em 2,9%a.a. em média, Mato Grosso registrou elevação de 7,4% a.a. e Goiás 12,2% a.a. Esse cenário está interligado à produção agrícola.
A oferta atual de milho limita a ampliação dos rebanhos e, consequentemente, os abates. Conforme falou, o estado possui uma área ociosa no inverno que pode ser aproveitada para as culturas de inverno, havendo, portanto, espaço para o aumento de produção nas safras de verão e inverno.
RS: berço da agropecuária no Brasil
Para o superintendente do Senar-RS, Eduardo Condorelli, o programa Duas Safras é uma iniciativa de todo o estado. "O Rio Grande do Sul é berço da agropecuária do Brasil que mostra a capacidade de abastecer gôndolas do mundo inteiro com preservação do meio ambiente", disse. Ele lembra que as possibilidades do programa são diversas. "Isso que nem falamos ainda da produção de etanol. Podemos abastecer mundo a fora, além dos animais que também se convertem em alimentação e ainda temos a energia". Quanto ao futuro, ele lembrou do crescimento populacional da China e Índia. "Só eles colocaram, em quatro meses, 70% da população do RS. Se há o medo da falta de cliente, ele está descartado pelos próximos 50 anos", destacou. Condorelli, que pautou sua palestra no Programa de duas safras de trigo e as oportunidades do Rio Grande do Sul, abordou ainda as transformações do mundo, a situação do Rio Grande do Sul, os espaços para cultivo, o papel das instituições e onde se quer chegar.
A segunda palestra do Fórum foi com o pesquisador da Embrapa, Giovani Faé, que falou sobre Cereais de inverno: genética e manejo num agro de oportunidades. Segundo ele, cultivos de verão são rentáveis, mas é possível ter receita de inverno tão boa quanto no verão e foi enfático ao afirmar que o inverno é uma fronteira agrícola a desenvolver.
Mercados
Para o pesquisador, há mercados para cereais de inverno na panificação, ração, exportação, etanol, pasto, silagem, planta de serviço e carbono. Ele explanou que o manter todo o peso dos custos fixos da propriedade rural em uma única safra não é bom. “Melhor é diluir”, afirmou, justificando que a mão de obra é permanente, assim como a manutenção de máquinas, o arrendamento, os impostos e a depreciação.
Ao final, o presidente do Sindicato Rural de Getúlio Vargas, Luiz Carlos da Silva, agradeceu a presença de todos enaltecendo a importância da realização desta edição do Fórum do Trigo e convidando a todos para participarem do IX Fórum Norte Gaúcho da Soja, que será realizado em Ipiranga do Sul no dia 26 de agosto de forma presencial, no Centro Esportivo Municipal, e nos dias 29 e 30 de agosto, em formato de live, pelo canal de YouTube.
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