Consumo de açúcar na infância pode estar ligado a problemas de saúde mental no futuro, como ansiedade e depressão, segundo especialistas
Pesquisas mostram que hábitos alimentares inadequados durante os primeiros anos de vida impactam diretamente o desenvolvimento mental e a saúde futura das crianças. Limitar o consumo de açúcar é essencial para prevenir transtornos como depressão e ansiedade, pois o excesso de açúcar pode causar alterações nos níveis de glicose e desencadear inflamações no organismo, que afetam diretamente o equilíbrio químico do cérebro.
No programa Escuta Aqui, transmitido pela Rádio Sideral, a psicóloga Jordana Calcing discutiu os impactos do consumo excessivo de açúcar na infância sobre a saúde mental. De acordo com estudos recentes, crianças que consomem grandes quantidades de açúcar têm até quatro vezes mais chances de desenvolver transtornos mentais na vida adulta, como ansiedade, depressão e até psicose.
Dados alarmantes sobre saúde mental na infância
Segundo Jordana, os transtornos mentais que se manifestam na vida adulta frequentemente têm suas raízes estabelecidas na infância. Um estudo de 2009, realizado nos Estados Unidos com 2,5 milhões de jovens entre 5 e 24 anos, apontou o aumento de diagnósticos de transtornos mentais em faixas etárias cada vez mais jovens. Leia mais sobre o estudo aqui. Entre as crianças de 5 a 9 anos, 7% já apresentam algum tipo de sofrimento mental, número que sobe para 12% entre adolescentes de 10 a 14 anos e 14% nos jovens de 15 a 24 anos.
Esse aumento é atribuído a diversos fatores, como a rotina cada vez mais agitada das famílias, o excesso de estímulos das telas e a pressão escolar. Porém, novos estudos chamam a atenção para a relação direta entre a alimentação, especialmente o consumo excessivo de açúcar, e o desenvolvimento desses transtornos.
O açúcar como vilão na saúde mental
Um estudo recente que foi destacado no programa associa o consumo excessivo de açúcar durante a infância com transtornos mentais na vida adulta. Jordana explica que esse estudo avaliou vários fatores de risco, como os níveis de glicose, colesterol e marcadores inflamatórios no corpo das crianças, constatando que o aumento significativo desses índices pode levar a doenças como diabetes e, no longo prazo, psicose, depressão grave e transtornos de ansiedade.
O consumo de açúcar em excesso interfere no funcionamento do cérebro, impactando diretamente a plasticidade cerebral — a capacidade de o cérebro se adaptar e formar novas conexões neurais. Isso pode, inclusive, dificultar o aprendizado e agravar sintomas de irritabilidade, agitação e distúrbios do sono nas crianças.
“A partir do momento que o cérebro infantil, que ainda está em formação, é bombardeado com açúcar, ele pode sofrer alterações significativas, o que pode contribuir para o desenvolvimento de problemas comportamentais e transtornos mentais na vida adulta”, alerta a psicóloga.
Dados preocupantes sobre o consumo de açúcar na infância
Outro dado relevante apresentado por Jordana é o alto índice de crianças que consomem açúcar regularmente. Segundo os estudos, 24,5% das crianças entre 6 e 23 meses de idade já consomem bebidas açucaradas, como sucos industrializados e refrigerantes. Após os dois anos de idade, esse número sobe para 50%, e mais de 80% das crianças com menos de dois anos consomem alimentos ultraprocessados, como salsichas, biscoitos e gelatinas.
“Apesar das orientações claras de que crianças menores de dois anos não devem consumir açúcar, a realidade que vemos é muito diferente. Esses alimentos, além de não contribuírem para a nutrição adequada, aumentam o risco de problemas de saúde física e mental no futuro”, destacou Jordana.
O impacto imediato do consumo de açúcar
Além dos efeitos a longo prazo, o consumo excessivo de açúcar também afeta o comportamento infantil de maneira imediata. Crianças que já apresentam ansiedade ou irritabilidade podem ver esses sintomas exacerbados pelo consumo de doces e alimentos açucarados.
A psicóloga também ressalta que os transtornos do sono estão diretamente ligados ao consumo excessivo de açúcar. “O açúcar é um estimulante natural. Quando a criança consome antes de dormir, por exemplo, a dificuldade para adormecer é muito maior, e isso afeta diretamente o comportamento dela no dia a dia”, afirmou Jordana.
Como os pais podem controlar o consumo de açúcar?
Controlar o consumo de açúcar, embora difícil, é uma das principais recomendações para os pais. Jordana sugere que a melhor estratégia é adiar ao máximo a introdução de açúcar na dieta das crianças, uma recomendação que, segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria, deve ser seguida até os dois anos de idade. Após essa fase, o ideal é que o consumo de açúcar seja esporádico e sempre controlado.
“É importante que os pais entendam que o consumo de açúcar não é necessário para a criança. Pode até ser usado como uma gratificação em momentos especiais, mas não deve ser uma constante na rotina alimentar”, afirmou.
Ela também enfatiza que a melhor maneira de reduzir o consumo de doces é não ter esses alimentos em casa. “Se o doce está disponível, a criança vai querer. Uma das estratégias mais eficazes é simplesmente não ter refrigerantes, chocolates e biscoitos em casa. Nos primeiros dias, as crianças podem até ficar irritadas, mas com o tempo isso passa.”
A importância do exemplo familiar
Os hábitos alimentares da família também desempenham um papel crucial. Jordana destacou que as crianças aprendem muito por observação, e se os pais mantêm uma alimentação rica em ultraprocessados e açúcares, é mais provável que os filhos sigam o mesmo padrão. Por outro lado, famílias que adotam hábitos alimentares mais saudáveis incentivam as crianças a fazerem escolhas melhores.
A psicóloga também reforça a importância de consultar profissionais, como nutricionistas, para reeducar a alimentação da família, principalmente quando o consumo de açúcar e alimentos processados já se tornou um problema.
Como negociar com as crianças
Para famílias que têm dificuldade em eliminar completamente o açúcar da rotina alimentar, Jordana sugere que seja feita uma negociação com a criança, oferecendo doces em ocasiões especiais, como após uma refeição saudável. Ela reforça que o mais importante é ensinar a criança a moderar o consumo e não enxergar o doce como algo necessário no dia a dia.
“Essa negociação é importante para que a criança entenda que o doce é uma gratificação, não uma necessidade. Dessa forma, ela aprende a controlar seus impulsos e a fazer escolhas alimentares mais saudáveis”, disse Jordana.
O impacto a longo prazo
A psicóloga finalizou sua participação no programa alertando sobre os efeitos de longo prazo do consumo excessivo de açúcar, que vão além dos transtornos mentais. O consumo frequente de açúcar está associado ao aumento de doenças crônicas, como diabetes, obesidade e problemas cardiovasculares, além dos problemas de saúde mental.
“A alimentação tem um papel crucial na formação física e mental das crianças. Ao limitar o consumo de açúcar e adotar hábitos alimentares saudáveis, os pais estão não só prevenindo doenças, mas garantindo um desenvolvimento mais equilibrado e saudável para os filhos”, concluiu Jordana.
Mais informações
Para mais informações sobre como controlar o consumo de açúcar e buscar orientação profissional, Jordana Calcing disponibiliza atendimento em suas redes sociais e pelo telefone (54) 99102-8036.
Ouça a entrevista completa:
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